SEPARADOS PARA ESPALHAR ALEGRIA
“Separai-me agora a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2)
Em todos os tempos e épocas vemos Deus separando homens e mulheres para realizarem o chamado divino em suas vidas. São os chamados “santos” (do Gr. Hagios e do Hebr. Kodesh) que o Eterno separou para si, para anunciarem as Boas Notícias de reconciliação a todo aquele que desejar ouvir.
O santo de Deus não é o ‘separado do mundo’ para não se contaminar com suas mazelas, como os fariseus pensavam, mas é aquele que aceitou sobre si o seu chamado, a sua missão, e o cumpre. Sobre Paulo, por exemplo, recaía o chamado de pregar o evangelho, e ele chega a dizer: “ai de mim se não o fizer” (1Co 9.16). Ou seja, a vontade de Deus está aí sobre nós, e podemos reagir favorável ou desfavoravelmente a ela. Entretanto, é importante saber que nossos atos e decisões gerarão um juízo divino sobre eles.
Servir a Deus é entregar a nossa agenda a Ele para que nossas prioridades sejam re-ordenadas. Na verdade, só existem dois tipos de pessoas: as que dizem a Deus – “seja feita a Tua vontade”, e aquelas que darão vazão somente a seus desejos. As primeiras desejam que Deus reine em suas vidas, no lar, nos negócios. As últimas pretendem seguir os seus instintos. Cabe aqui uma advertência: lutar contra a vontade de Deus sobre nossa vida é o caminho da infelicidade e o início do naufrágio pessoal.
Rudes pescadores cuja única pretensão era jogar diariamente suas redes ao mar, e sustentar suas famílias com os peixes vendidos, foram chamados para um propósito que jamais poderiam sonhar.
O que dizer de Gideão, malhando o trigo para sustentar sua família, e Deus o escolhe para livrar toda a nação das mãos dos opressores midianitas. Ele retruca, dizendo-se incapaz, mas Deus insiste no Seu propósito. Lição: Às vezes estamos vivendo tão absortos, cuidando de ‘nossa’ sobrevivência, pensando em ‘nossa’ família, em ‘nossas’ dores e necessidades, e vem o Senhor e nos diz: “Eu não quero mais vê-lo tão preocupado com as suas coisas... deixe que delas Eu cuido. Eu tenho um ‘servicinho’ pra você”.
Entretanto, há um preço em servir a Deus. Quem é confrontado pelo Evangelho é desafiado a apostar tudo nele. É isso o que acontece nas parábolas de Jesus: o homem que achou a boa pérola, foi e vendeu tudo o que possuía para ficar com ela. O que achou o tesouro no campo também.
O escritor Leo Buscaglia conta a história do garoto Jamie que estava disputando um papel na peça da escola. Sua mãe tinha procurado preparar seu coração, pois ela temia que ele não fosse escolhido. No dia em que os papéis foram anunciados, ela foi buscá-lo. Chegando ao portão, Jamie correu para a mãe, com os olhos brilhando de orgulho e emoção:
- “Adivinha o quê, mãe!”. E disparou as seguintes palavras:
- “Eu fui escolhido para bater palmas e espalhar alegria!”
Fico me perguntando se não é justamente esse chamado que Jesus tem para todos nós, mas temo que só uma pequena parcela de cristãos compreendeu isso. A maioria ainda está demasiadamente preocupada consigo mesma. Não entenderam ainda nada do que Jesus mostrou em todo o seu ministério: a importância da simplicidade, da misericórdia, da tranqüilidade dos pássaros, não entendeu nada sobre o perdão, sobre a graça que vem sobre maus e bons.....
O mundo não suporta mais religiosos cheios de “queixavor” (um pouco de queixa, um pouco de louvor), estéreis, briguentos, nuvens carregadas sem chuva. De nada vale ser chamado de “crente” ou “evangélico”, ou qualquer outro nome, se não temos espalhando nada de bom à nossa volta.
É engraçado que as pessoas acham que o seu chamado ou a sua missão estão longe, num lugar diferente de onde elas se encontram. Porém, na maioria das vezes o chamado a servir está justamente onde você está: em sua casa, no seu bairro, em seu trabalho, em sua igreja. O gadareno liberto de demônios queria seguir a Jesus e fazer missão transcultural. Bondosamente o Mestre o envia, mas de volta pra casa: “volta pra tua esposa, pra tua cidade, para os teus filhos... e anuncia-lhes o que Deus fez por ti”.
No Reino de Deus não há serviço menor ou maior, chamado menos importante ou mais importante. Antes de Davi ser ungido como rei em Israel, ele foi escolhido para guardar o rebanho de seu pai. Sim, escolhido para afugentar lobos, e atirar pedra em chacais. O genuíno amor está sempre preocupado com o específico, e não apenas com o geral, com alguém, uma pessoa, e não com várias coisas (E.Peterson). É fácil deixar de dar valor às coisas comuns e presentes à nossa frente, mas Deus tem essa maneira peculiar de nos apresentar Seu chamado. Tudo que Davi fez foi com um coração tão puro, que o Senhor o escolheu para ser rei de uma nação.
É preciso aprender que na vida nem sempre seremos contados entre os melhores, nem teremos beleza marcante, e provavelmente seremos reprovados nos melhores concursos. E é possível que durante toda a nossa vida não sejamos conhecidos por mais de uma centena de pessoas. Por isso sempre gosto sempre de pensar nos inúmeros anônimos servidores do Rei, que estão espalhando bondade, alegria, e uma forma diferente de viver, pessoas que vale a pena estar ao lado delas.
Creio que Deus sempre está chamando pessoas a viver de uma forma diferenciada no mundo, ainda que anônimas. Talvez a oração que Deus mais se agradaria em ouvir de nossos lábios, não seria o pedido de um aumento de salário, ou um carro melhor, mas: “Senhor, ensina-me a viver, ensina-me a ouvir Teu chamado. Não tenho nada de especial, mas aquilo que sou eu ofereço integralmente a Ti. Amém”.
Por Pr. Daniel Rocha - dadaro@uol.com.br